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G. Antecipações do Futuro , 48.1—50.26 Os capítulos finais de Gênesis estão fundamentados nas ocorrências de morte no

presente ou futuro imediato, e no futuro de longo alcance dos descendentes de Jacó. Sempre é ressaltado que a terra de Egito não é o lar permanente deste povo. Eles têm de ter os olhos voltados para Canaã. Para enfatizar este ponto, Jacó foi enterrado na caverna sepulcral da família e José foi embalsamado para futuro sepultamento em Canaã.

1. Jacó Adota os Filhos de José (48.1-22) Uma piora na saúde de Jacó levou José (1) e seus dois filhos para o lado da cama

do idoso patriarca. Com dificuldade, Jacó se sentou para recebê-los. Tratava-se de uma reunião importante, sobre a qual pai e filho já haviam conversado. As recordações de Jacó viajaram àquele momento significativo em Luz (3, Betei; ver

28.10-22). Naquela ocasião, o Deus Todo-poderoso lhe apareceu, tornando-se pessoalmente real e transmitindo-lhe as promessas do concerto. Agora Jacó queria passar estas promessas do concerto, junto com obrigações anexas, para seus descendentes. Já conhecia a vontade de Deus concernente a qual filho seria separado para este privilégio, mas não contou a ninguém.

A primeira medida de Jacó foi adotar os dois filhos de José. Colocou-os no mesmo

nível que Rúben e Simeão (5), os dois filhos mais velhos.10 Jacó nunca esqueceu a perda de Raquel, assim queria honrá-la elevando estes netos à condição de filhos e, por conseguinte, tribos em Israel. O nome de José seria perpetuado por outros filhos aptos que nasceriam (6). Efrata (7) é um nome antigo de Belém, inserido pelo escritor para tornar o local claro. Os olhos embaçados de Jacó (10; cf. ARA) notaram duas outras pessoas no quarto.

Certificando-se de que eram Efraim e Manassés, passou a fazer os gestos rituais de adoção comuns entre seu povo. O pai recebia os filhos legítimos colocando-os entre os

joelhos (12; cf. ARA); foi assim que foram reconhecidos estes filhos adotivos. O próximo passo era o ato formal de pronunciar a bênção que era irrevogável para o

povo de Jacó. Desconhecendo as intenções do pai, José posicionou os filhos de acordo com o costume, ou seja, o filho mais velho em frente à mão direita do pai tribal (13). Antecipando este movimento, Jacó cruzou as mãos e pronunciou a bênção do concerto sobre o mais novo, Efraim (14). Daquele momento em diante, Efraim seria o representante do concerto diante de Deus. Descontente com o procedimento do pai, José tentou mudar a posição das mãos de Jacó, mas Jacó lhe disse que a ação foi intencional. Avisadamente (14) seria “conscientemente”. Pela terceira vez, o filho mais novo na linhagem patriarcal tomou o lugar do filho mais velho (ver 17.19,20; 27.27-29). Na bênção, Jacó testificou do Anjo que me livrou de todo o mal (16). Esta é a

primeira vez que a palavra “livrar” (go’el), com o sentido de resgate, aparece nas Escrituras. Está baseada na obrigação de um homem da mesma família comprar de volta a propriedade hipotecada de um parente infeliz, ou comprar de volta o próprio parente da escravidão (Lv 25.25-55). Jacó percebeu que sua desonestidade com Esaú e suas dificuldades com Labão foram um mal que ameaçou prendê-lo. Mas Deus o ajudou a acertar as coisas com Labão e a reconciliar-se com Esaú. Deus também o livrou dos maus caminhos dos seus filhos mais velhos e lhe devolveu José. Estes foram os atos de Deus que lhe deram esperança e alegria ao coração. Na sua opinião, estes eventos eram redentores, porque ele devia tudo ao que Deus havia feito a favor dele. Aquele que agiu tão eficientemente no passado abençoaria os rapazes e produziria a redenção para estes netos. Além da bênção especial em Efraim (17), Manassés (cf. 27.39,40) também foi abençoado. Aforma desta bênção: Deus te ponha como a Efraim e como a Manassés (20), ainda é usada entre os judeus. Jacó também prometeu que José voltaria para Canaã (21), pois esta era a vontade de Deus. José teria um pedaço (22) só seu daquela terra. Ficava em Siquém. Não resta outro registro da batalha com os amorreus que esteja relacionado com a propriedade de Jacó desta parte do país. Josué 24.32 declara que o corpo embalsamado de José foi enterrado na parte do campo que foi comprada dos “filhos de Hamor” (ver tb. Jo 4.5,6).

2. Jacó Abençoa Seus Filhos (49.1-28) Com exceção do primeiro versículo, esta porção bíblica está na forma poética, rica

em paralelismo de pensamento, jogo de palavras e metáforas. Era momento solene, pois o patriarca estava declarando sua vontade final e apresentando seu testamento antes de morrer.

Há forte traço de ironia no tratamento de Jacó com Rúben (3). Como primogênito,

seu lugar era de alto privilégio e responsabilidade. Deveria ter sido líder de força, vigor, alteza e poder. Mas Rúben deu as costas às coisas mais excelentes e se rebaixou ao nível mais inferior. Procurou demonstrar liderança poluindo o leito (4) do pai em grosseiro ato de incesto (cf. 35.22). Jacó não se esqueceu do fato e, agora, Rúben tinha de

pagar elevado preço por sua loucura. “A Tragédia da Instabilidade Espiritual” é ilustrada nas palavras de Jacó a respeito

de Rúben: 1) Homem de grandes possibilidades, 3; 2) A excelência perdida de Rúben: Não serás o mais excelente, 4; 3) O erro fatal: Inconstante como a água, 4 (W. T. Purkiser). Simeão e Levi (5) estão agrupados, porque tinham chefiado o massacre sangrento

de Siquém (34.25-29). O choque de Jacó quando ficou sabendo deste incidente está vividamente descrito nesta condenação do ato irrefletido. Moffatt traduz assim: “Em seus planos, minha alma, nunca participe; coração meu, não se una ao seu conselho!” (cf. ARA). Nenhum deles teria território tribal em Canaã, mas seriam espalhados entre as outras tribos (ver Js 19.1-9; 21.1-42). Judá (8) demonstrou ser homem melhor na maturidade do que na juventude e,

antes da mudança para o Egito, evidenciou habilidade de liderança. O nome significa “louvor” e, assim, seria o louvor da família de Jacó como líder militar e político. Sua

coragem seria igual à do leão (9); mas, acima de tudo, a realeza viria da tribo de Judá (1 Sm 16.1-13; 2 Sm 2.1-4; 5.1-5). Muita controvérsia gira em torno da palavra Siló (10), que pode ter o significado de

“descanso ou doador de descanso”. Este é o nome da cidade onde a arca descansou até o tempo de Samuel (1 Sm 4.1-22). Mas visto que esse local nunca foi importante na história de Judá, parece não haver ligação com esta profecia no versículo 10. Uma antiga tradução aramaica contém a frase “até que o Messias venha”, e esta interpretação detém forte posição no entendimento judaico e cristão do texto. O Targum Grego, o Targum Samaritano e o Targum de Onquelos dão uma leitura que indica uma palavra hebraica composta, que significa, literalmente, “aquele que é dele” (cf. Ez 21.27). Esta interpretação também aponta significação messiânica, a qual tem sido contestada.11 Os protestantes estão bastante unidos em considerar que Jesus é o cumprimento

desta predição que saiu dos lábios de Jacó. Entendida dessa forma, esta profecia significava que além das tribos de Israel os povos do mundo obedeceriam àquele que viria.12 A tradução de Smith apanhou o espírito de realeza contido nesta descrição da liderança de Judá:

Ele amarra o jumento à videira, E o filho do jumento à mais escolhida videira; Lava a roupa em vinho, E os mantos no sangue de uvas; Seus olhos são mais escuros que o vinho, E seus dentes mais brancos que o leite.

A principal característica de Zebulom (13) era a associação com o comércio marítimo. Estes povos seriam vigorosos comerciantes.

Issacar (14) estaria relacionado com a tarefa do trabalhador e faria seu trabalho de

modo fiel e imaginativo. Teria o epítome de “O Contribuinte” ou “O Pagador de Impostos”. O nome Dã (16) significa “juiz”. Mas que juiz fraco! Em vez de justiça, a traição

marcaria suas decisões que afligiriam o queixoso como o veneno da víbora (17). Quando Jacó proferiu este pronunciamento, não pôde deixar de desabafar com angústia: A tua salvação espero, ó SENHOR! (18). As palavras sobre os próximos três filhos foram curtas. Gade (19) seria oprimido, mas

no final venceria. Aser (20) seria próspero tendo excesso de alimentos. Naftali (21) conheceria a liberdade e seria abençoado com a capacidade de proferir palavras agradáveis. Em contraste com estes três, Jacó transbordou com predições de um futuro frutífero para José (22). Embora perseguido, este filho foi sustentado pelas mãos do Valente de Jacó (24). Este era o Deus que foi o Pastor, Protetor e Pedra de Israel em toda sua vida. O Todo-poderoso (25) seria liberal com suas bênçãos, cinco das quais são enumeradas. José seria diferente de todos os seus irmãos (26). Moffatt traduz partes dos versículos 24 e 25 significativamente:

O Valente de Jacó te apóia, A Força de Israel te sustenta.

Oh, o Deus de teu pai que te ajuda, O Deus Todo-poderoso que te abençoará.

Em 49.22-26, G. B. Williamson destaca “José, Ramo Frutífero”. 1) As tribulações de

José, 23 (cf. 37.17-36); 2) A tentação de José, 24 (cf. 39.7-20; 40.14,23); 3) O triunfo de José, 25,26 (cf. 4.39-46). Benjamim (27) é semelhante a lobo, “que devora a presa pela manhã e divide o

espólio à noite” (Smith-Goodspeed; cf. ARA). A violência tomaria parte em sua aquisição de riquezas.

3. A Morte de Jacó (49.29-33) Tendo distribuído suas bênçãos, Jacó mencionou seu desejo já revelado a José (47.2931). Ele deveria ser sepultado na cova que está no campo de Macpela (29,30), que foi comprada por Abraão (23.1-20). Era a sepultura dos seus antepassados e de Léia (31), sua esposa. Jacó queria ter certeza de que na vida e na morte seus filhos manteriam os olhos voltados para Canaã como sua verdadeira casa. Tendo tratado do último detalhe, não havia mais necessidade de delongas. Jacó foi congregado ao seu povo (33), como aconteceu com Abraão e Isaque.

4. O Sepultamento de Jacó (50.1-14) José (1) foi tomado pela emoção. Pondo de lado a dignidade de sua alta posição,

chorou sobre o corpo sem vida do pai. Mas também conhecia o seu dever. Na morte, Jacó teria o melhor. Por quarenta dias (3) o corpo permaneceu no processo de embalsamento, e mais trinta dias foram gastos no luto, algo que não ocorreu com Abraão ou Isaque. Em seguida, José foi à casa de Faraó (4), ou seja, dirigiu-se aos funcionários da

corte, para explicar o voto que Jacó lhe pediu e obter permissão para cumpri-lo. José garantiu que voltaria (5). O pedido foi passado a Faraó (6), que concedeu permissão para José deixar o país e, mais importante de tudo, nomeou um grupo de representantes oficiais para comparecer no funeral. Numeroso séqüito formado por israelitas e egípcios pôs-se a caminho da cova de

Macpela. Na eira do espinhal (10, ou “eira de Atade”, ARA), presumivelmente perto da caverna sepulcral, a comitiva observou sete dias de luto por Jacó. Os eananeus (11) nativos ficaram impressionados com a presença de tantos funcionários do Egito e com o luto sobre Jacó, a quem bem conheciam. Diante disso, deram outro nome à eira: Abel-Mizraim, que quer dizer “o luto dos egípcios”. O sepultamento na cova do campo de Macpela (13) ocorreu formalmente e a comitiva fúnebre voltou para o Egito.

5. Os Irmãos Medrosos (50.15-21) A morte de Jacó trouxe à tona o medo que por vários anos esteve submerso na mente

dos irmãos de José. Será que com a morte do pai, José despejaria represálias contra eles? Não conseguiam acreditar que ele já os havia perdoado totalmente. Em conjunto, resolveram deixar claro que o arrependimento pelas ações passadas era verdadeiro, ainda que esse arrependimento nunca tivesse sido verbalizado (cf. 45.4-15). Discretamente, os irmãos enviaram uma mensagem a José antes que fossem chamados para uma reunião. Pela primeira vez ocorre no registro bíblico um pedido de perdão de maneira franca e direta, embora estas palavras de Jacó para Esaú: “Para achar graça aos olhos de meu senhor” (33.8,10), se aproximem disso. O teor da comunicação tocou o coração de José, promovendo outra cena de reconciliação profundamente comovente. A forma física dos irmãos prostrados relembra um dos sonhos de José, contra o qual tinham reagido com crueldade (37.5-8). Ainda que José possuísse supremo poder humano para se vingar, sua alma foi invadida por uma maior influência: a prontidão em perdoar. O único Deus verdadeiro dominou o ódio humano e o tornou em bem para conservar em vida a um povo grande (20). A bondade de José expulsou o medo importunador, e os irmãos saíram genuinamente unidos em termos de respeito e amor mútuo.

6. O Último Pedido de José (50.22-26) Chegava o momento da morte do quarto dos grandes patriarcas. A morte não causou

terror para Abraão (25.7-11), Isaque (35.27-29) ou Jacó (49.28-33). O mesmo se deu com José. Como aconteceu com seu pai, José se assegurou que, no fim, seus restos mortais seriam postos para descansar na Terra Prometida. Reunindo os irmãos (24), José reiterou a fé do seu pai, declarando que Canaã era o

verdadeiro lar dos israelitas. Obteve deles um juramento: Fareis transportar os meus ossos daqui (25). Tendo cuidado disso, José morreu em paz com a idade de cento e dez anos (26). Foi embalsamado, colocado num caixão e, por algum tempo, sua múmia permaneceu com os irmãos no Egito. De 50.22-26, Alexander Maclaren expõe o tema “A Fé de José”. 1) A fé sempre é a

mesma embora o conhecimento varie; 2) A fé exerce sua mais nobre função em nos separar do presente; 3) A fé dá vigor aos homens no cumprimento dos seus deveres. 






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