Introdução
A. Importância 0 grande crítico francês Renan tem sido citado com freqüência, por sua famosa declaração de que o Evangelho de Mateus é “o livro mais importante que já foi escrito”. Há dúvida se esta afirmação será algum dia seriamente desafiada. Mateus era o principal Evangelho na igreja primitiva e tem um lugar de destaque hoje. Zahn diz: “Em grandeza de concepção, e no rigor com que uma massa de material subordina' nenhum livro em qualquer um dos Testamentos, tratando de um tem comparado com Mateus” Antigo Testamento.
Ele se encontra no limiar do Novo Testamento, ligando-o ao se a grandes idéias,
B. Autoria Todos os quatro Evangelhos são anônimos; eles não levam o nome dos autores. No
entanto, a tradição da igreja primitiva os atribui respectivamente! a Mateus, Marcos, Lucas e João. Papias, que escreveu por volta de 140 d.C., é a mais antiga testemunha sobre a
questão da autoria. Ele disse que Mateus compôs os discursos ou as palavras (logia) “no dialeto hebraico” (aramaico), e “cada um o traduziu como foi capaz”.2 O prólogo antimarcionita ao Evangelho de Mateus desapareceu. Mas o de Lucas,
diz que Mateus escreveu o seu Evangelho na Judéia.3 Irineu (ca. 185 d.C.) disse: “Mateus, realmente, produziu o seu Evangelho entre os hebreus em seu próprio dialeto, enquanto Pedro e Paulo proclamaram o evangelho e fundaram a igreja em Roma”.4 Orígenes (ca. 220 d.C.) disse acerca dos Evangelhos: “O primeiro Evangelho!é segundo Mateus, o mesmo que foi uma vez publicano, mas depois disso um apóstolo de Jesus Cristo, que tendo-o publicado para os judeus convertidos, o escreveu em hebrajico”.6 O fato de que este Evangelho foi escrito para os judeus é bem apoiado pela natureza de seu conteúdo. O próprio comentário de Eusébio diz: “Mateus, tendo também proclamado o Evangelho em hebraico, quando a ponto de ir também para outras nações, se propôs a escrever em sua própria língua, e assim supriu a necessidade de sua presença com eles, por meio de seus escritos”.6 O testemunho mais antigo, então, cita uma coletânea de “palavras” em aramaico.
Seria o nosso atual Evangelho de Mateus uma tradução dessa coletânea? Wikenhauser escreve: “Pode ser tomado como certo que um original em aramaico do Evangelho de Mateus só pode ser defendido se considerarmos Mateus em grego não uma tradução literal do aramaico, mas uma revisão completa feita com o uso freqüente do Evangelho de Marcos”.7 Tasker, professor emérito de Exegese do Novo Testamento na Universidade de
Londres, interpreta assim a antiga tradição: “E concebível que Mateus, que era com toda probabilidade bilíngüe, tenha ele mesmo traduzido a sua obra original ou a republicado em uma edição em grego, ampliada”.8 Ele também diz: “De todos os apóstolos cujas ocupações anteriores nos são conhecidas, Mateus parecia ser o mais lificado para se encarregar da composição do tipo de narrativas que encontramos inseridas no ‘primeiro’ Evangelho”.9 Mateus é citado nominalmente nas quatro listas dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc
3.18; Lc 6.15; At 1.13), mas somente na lista de Mateus ele é identificado como “o publicano” (isto é, “cobrador de impostos”). A outra única passagem no Novo Testamento onde o nome de Mateus ocorre está ligada ao seu chamado para seguir Jesus, conforme registrado em Mateus 9.9. Nos outros dois relatos deste chamado, ele é designado como “Levi” (Mc 2.14; Lc 5.27,29). Parece que este apóstolo, da mesma forma que outros homens no Novo Testamento, era conhecido por dois nomes diferentes (cf. João Marcos; Saulo, Paulo). A recusa de muitos estudiosos hoje de identificar Mateus com Levi não é plausível. Os argumentos atuais contra a autoria do primeiro Evangelho por Mateus não são
convincentes. Recentemente, um dos principais estudiosos do Novo Testamento nos Estados Unidos da América escreveu uma vigorosa exposição e defesa da opinião tradicional de que Mateus, o apóstolo, foi o escritor deste Evangelho.10 No entanto, deve ficar claro que, sendo os quatro Evangelhos anônimos, não somos obrigados a aceitar qualquer teoria sobre a autoria deles. Mas a tradição da igreja primitiva não deve ser ignorada facilmente. Deve ter havido alguma base histórica para a atribuição universal dos nomes de Mateus, Marcos, Lucas e João para estes quatro livros. Então assumimos a posição de que Mateus, o apóstolo, escreveu o Evangelho que leva o seu nome.
C. Data Como no caso da maioria dos livros do Novo Testamento, a data é incerta. Escritores
mais antigos consideraram Mateus como tendo sido escrito por volta de 60 d.C. A maioria dos estudiosos hoje prefere 80 ou 85 d.C. Streeter prefere a segunda data.11 A questão não é de importância vital, embora prefira a data mais antiga.
D. Local da Escrita Novamente há duas opiniões principais. A opinião tradicional é a de que o livro de
Mateus foi escrito na Palestina (cf. “Judéia”, acima). Streeter diz que o local foi Antioquía da Síria,12 e ele é seguido pela maioria dos estudiosos hoje. Talvez a coletânea aramaica de palavras tenha sido escrita na Palestina, e o Evangelho em grego em Antioquia.
E. Propósito Fica evidente que Mateus escreveu o seu Evangelho para os judeus, com o objetivo
de apresentar Jesus como o Messias. Quando o Evangelho foi escrito, a nação já o havia rejeitado, e logo - se Mateus foi escrito entre 60 e 70 d.C. - iria sofrer por isto um severo juízo através da destruição de Jerusalém (70 d.C.). Hayes diz: “O primeiro Evangelho tinha algo do caráter de um ultimato oficial. Foi um último aviso do Senhor para o seu povo”
F. Fontes É consenso geral entre os estudiosos modernos que Mateus (como também Lucas)
usou Marcos como a fonte principal para a sua estrutura histórica, e uma coletânea de “Palavras” (Q, ou a Logia) para os ensinos de Jesus. Mateus freqüentemente resume as
narrativas de Marcos, e é geralmente menos vívido em suas descrições. Mais de 90% do material em Marcos também é encontrado em Mateus. Porém Marcos não parece ser uma condensação de Mateus, como Agostinho defendia, porque o seu estilo e apresentação são mais vivazes e vigorosos. Streeter postulou uma outra fonte, chamada de M, como responsável pelo material
encontrado somente em Mateus.14 Mas Tasker tem uma boa resposta para isso. Ele diz: “A diferença entre Mateus e Marcos pode ser igualmente bem explicada na suposição de que o Evangelho de Mateus retém detalhes originalmente transmitidos pelo apóstolo com este nome, e que o Evangelho de Marcos freqüentemente recofre às memórias de Pedro”.18 Nós avançaríamos um passo além de Tasker e diríamos que os detalhes foram escritos por Mateus na composição de seu Evangelho.
G. Caráter O Evangelho de Mateus é o mais judaico dos Evangelhos. A genealogia judaica
de Jesus que ele apresenta retrocede até Abraão, e é colocada no início do Evangelho. Isto porque a primeira pergunta dos judeus a respeito de um homem estaria relacionada à sua descendência. Lucas não apresenta a sua genealogia dê Jesus até o terceiro capítulo, e ela retrocede até Adão. Jesus é descrito logo no primeiro versículo de Mateus como “filho de Davi, filho de Abraão”. Mateus não explica os costumes ou termos judaicos, como fazem Marcos e Lucas, pois os seus leitores os entenderiam. Ele faz mais referências à Lei de Moisés do que os outros (cf. v. 5). Ele relaciona mais cumprimentos da profecia do Antigo Testamento do que os outros. Frases como “para que se cumprisse o que fora dito” ocorrem treze vezes em Mateus e nunca em Marcos ou Lucas (seis vezes em João). Mateus enfatiza mais a “justiça” do que todos os outros Evangelhos juntos. Esta era a idéia central da religião judaica. A palavra “reino” ocorre com mais freqüência aqui (cinqüenta e seis vezes) do que em qualquer outro Evangelho; e a frase “o reino dos céus” só é encontrada em Mateus (trinta e três vezes) ao longo de todo o Novo Testamento. Jesus é apresentado aos judeus não só como o seu Messias, mas como o seu Rei. Bem
no início, a genealogia apresenta a linhagem real, provando o direito de Jesus ao trono de Davi. Os sábios perguntaram pelo “Rei dos judeus” (apenas em Mateus). Há mais ênfase em Jesus como Rei do que nos outros Evangelhos. A outra característica extraordinária deste Evangelho (além dé seu judaísmo) é o
seu arranjo sistemático. Mateus havia, provavelmente, recebido algüm treinamento em negócios, e tinha que registrar livros como um cobrador de impostos. Ele apresenta o seu material em uma ordem sistemática. Ele tem sete (o número da perfeição) parábolas do Reino no capítulo treze. Nos capítulos oito e nove, ele reúne dez milagres de Jesus. IVês e sete são números proeminentes em seu Evangelho, e aqui ele os acrescenta juntos.
0 exemplo mais óbvio dessa característica é o arranjo de Mateus dos ensinos de
Jesus em cinco grandes discursos. São eles: 1) o Sermão do Monte, caps. 5-7; 2) Instruções aos Doze, cap. 10; 3) Sete Parábolas do Reino, cap. 13; 4) A Comunidade Cristã, cap. 18; 5) os Discursos no Monte das Oliveiras, caps. 24-25. Cada um deles finaliza com a fórmula: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso...”. A principal impressão que se tem ao ler este Evangelho é que um escritor judeu está
apresentando Jesus aos judeus como o seu Messias. D. A. Hayes diz que o Evangelho de Mateus é “quase um manual de profecias messiânicas”
Esboço
I. A Preparação do Messias, 1 .1— 4 .2 5
A. A Genealogia de Jesus, 1.1-17 B. O Nascimento de Jesus, 1.18-25 C. A Infância de Jesus, 2.1-23 D. O Ministério de João Batista, 3.1-12 E. O Batismo de Jesus, 3.13-17 F. A Tentação de Jesus, 4.1-11 G. Os Primeiros Tempos na Galiléia, 4.12-25
II. Primeiro Discurso: O Sermão do Monte, 5.1—7.29
A. O Cenário do Sermão, 5.1-2 B. A Natureza dos Discípulos, 5.3-16 C. A Justiça dos Discípulos, 5.17-48 D. A Religião dos Discípulos, 6.1-34 E. A Vida dos Discípulos, 7.1-29
III. Narrativa Retomada: U m Ministério de Milagres, 8 .1— 9 .3 4
A. Três Milagres de Cura, 8.1-17 B. O Custo do Discipulado, 8.18-22 C. Mais Três Milagres, 8.23—9.8 D. Misericórdia, Não Sacrifício, 9.9-17 E. O Terceiro Conjunto de Milagres, 9.18-34
IV. Segundo Discurso: A s Instruções Para os Doze, 9 .3 5— 10.4É
A. A Necessidade de Obreiros, 9.35-38 B. A Missão dos Doze, 10.1-42
V. Narrativa Retomada: A Rejeição do Messias, 11 .1— 1 2 .5 0
A. Jesus e João Batista, 11.1-19 B. Jesus e As Cidades, 11.20-24 C. Jesus e Os Simples, 11.25-30 D. Jesus e Os Fariseus, 12.1-45 E. Jesus e a Sua Família, 12.46-50
V I . Terceiro Discurso: Parábolas do Reino , 1 3 .1 -5 2
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