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UM MINISTÉRIO DE MILAGRES Mateus 8.1—9.34

Uma das principais características deste Evangelho é o seu arranjo sistemático (veja Introdução). Depois de três capítulos de ensinos, agora encontramos dois capítulos de poderosos milagres. As palavras de Jesus são seguidas pelas suas obras. Da mesma maneira que Moisés, depois de dar aos israelitas a Lei no monte Sinai começou a realizar milagres para o povo, assim também o novo Moisés, depois de dar no monte os mandamentos básicos do Reino, realizou milagres para dar provas do poder do Reino. A respeito dele, ainda mais verdadeiramente do que a respeito do primeiro Moisés, poderia ser dito que “era poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22). Pode-se definir “milagre”, de uma maneira muito resumida e simples, como “uma interferência na Natureza por um poder sobrenatural”.10 homem moderno questionou a credibilidade dos milagres. Mas C. S. Lewis coloca toda a questão sob o enfoque adequado ao escrever que: “O milagre central afirmado pelos cristãos é a Encarnação... qualquer outro milagre é a preparação para isso, ou é o resultado disso”.2 Há dez “milagres do Messias” que estão registrados nos capítulos oito e nove. 

Apredileção de Mateus por um arranjo sistemático também aparece no agrupamento dos acontecimentos destes dois capítulos. Primeiramente, ele apresenta três milagres - a cura de um leproso (8.1-4), de um paralítico (8.5-13) e da sogra de Pedro (8.14-17). Esses milagres são seguidos por uma breve seção de ensinos (8.18-22). Em seguida, vêm outros três milagres - a transformação da tempestade em bonança (8.23-27), a libertação de dois endemoninhados (8.28-34) e a cura de outro paralítico (9.1-8). A seguir, estão o mado de Mateus (9.9), a festa em sua casa (9.10-13), e uma discussão sobre o jejum (9.1417). O terceiro grupo de milagres inclui a cura da mulher com hemorragia e a ressurreição da filha de Jairo, mencionados juntos (9.18-26), a cura de dois cegos (9.27-31) e a cura do mudo endemoninhado (9.32-34). Estes são seguidos por uma afirmação de que Jesus passou por toda a Galiléia, ensinando, pregando e curando; também há uma observação a respeito da necessidade de obreiros. Dos dez milagres mencionados nestes dois capítulos, nove são curas, e o outro é um milagre da natureza. Jesus mostrou a sua autoridade divina sobre as enfermidades, a morte, os demônios e as tempestades.

A . Três Milagres de Cura , 8 .1 -1 7

1. A Purificação de um Leproso (8.1-4) Este acontecimento também está registrado em Marcos 1.40-45 e em Lucas 5.12-16.

Como de costume, o relato de Marcos é o mais vívido dos três. Marcos coloca o episódio no final de uma viagem de pregação pela Galiléia. Lucas o coloca depois do chamado dos quatro primeiros discípulos. Mas Mateus o coloca depois do Sermão do Monte. Isto está de acordo com o seu padrão de arranjo sistemático, agrupando em um lugar os ensinos de Jesus, e em outro os seus milagres. Um exemplo interessante das diferenças de vocabulário dos três Evangelhos Sinóticos,

embora com o mesmo significado, se encontra aqui. Mateus diz que veio um leproso e o adorou (2). Marcos diz: “rogando-lhe e pondo-se de joelhos”. E Lucas diz: “prostrou-se sobre o rosto e rogou-lhe”. Os três autores utilizam uma considerável liberdade de expressão para relatar os mesmos fatos, como seria de se esperar. Quando Jesus tocou o leproso (3), Ele se tomou cerimonialmente impuro, de acordo

com a Lei. Mas, na verdade, o seu poder purificou a doença. Assim nós, ao invés de ficarmos contaminados pelo contato com os pecadores, deveríamos, pelo poder do Espírito Santo, ter uma influência redentora sobre eles. Como a lepra, na sua maneira de espalharse pelo corpo e de devastá-lo, é um tipo impressionante do pecado na alma, é completamente adequado que a sua cura seja mencionada como uma “purificação” (cf. Lv 14.2). Os versículos 2 e 3 sugerem o tópico “A Disposição do Amor” com três pontos: 1) O

medo do homem - se quiseres; 2) A fé do homem - podes tornar-me limpo; 3) o cumprimento por parte do Mestre - Quero; sê limpo. Cristo mandou que o homem curado se apresentasse ao sacerdote, para que pudesse

ser oficialmente declarado purificado (cf. Lv 14.1-52). A expressão para lhes servir de testemunho (4) se refere aos sacerdotes, pois Jesus já lhe tinha dado a ordem de não divulgar o ocorrido. Marcos conta que o homem curado desobedeceu esta ordem. O resultado foi que o Mestre passou a enfrentar um obstáculo em seu ministério de ensino; as grandes multidões que vinham em busca de curas (Mc 1.45; cf. Lc 5.15). Como de costume, a narrativa de Mateus é a mais curta das três.

2. A Cura do Servo do Centurião (8.5-13) Este episódio não é registrado por Marcos, mas somente por Lucas (7.1-10). Aconteceu

em Cafamaum, a cidade que Jesus tinha adotado como seu quartel-general. Um centurião que era o oficial encarregado de cem soldados romanos - veio até Cristo com um pedido urgente. Um dos seus servos, “a quem... muito estimava” (Lc 7.2) jazia em casa paralítico e violentamente atormentado (6). Lucas diz que ele estava “doente e moribundo”. Jesus imediatamente respondeu: Eu irei e lhe darei saúde (7). Mas o centurião

objetou, dizendo que ele não era digno de que o Mestre viesse à sua casa (8). Tudo o que Jesus precisava fazer era dizer somente uma palavra e o seu servo seria curado. Ele argumentou que, assim como ele dava as ordens e elas eram obedecidas, da mesma maneira as ordens do Mestre teriam completa autoridade para a sua execução (9). Quando Jesus ouviu esta incomum declaração de fé no seu divino poder, maravilhou-se (10) e disse aos seus seguidores de pouca fé: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. Há somente uma outra ocasião em que se diz que Cristo se maravilhou, ou se admirou, e esta foi diante da incredulidade das pessoas da sua cidade (Mc 6.6). O Mestre deve ter sentido uma mistura de emoções ao ouvir as palavras do centurião - uma vibração de alegria diante da fé de um gentio, e uma pontada de tristeza diante da descrença dos seus companheiros judeus. Não se pode deixar de imaginar quais podem ser as Suas reações diante das atitudes dos membros da Sua igreja na atualidade. Será que estamos alegrando o coração de Jesus com uma convicta fé nele? Somente Mateus registra, nesta ocasião,3 a advertência de Cristo de que muitos

gentios virão do Oriente e do Ocidente (11) para se sentarem à mesa com os patriarcas no Reino dos céus, ao passo que os filhos do Reino (12) - os judeus - serão lançados nas trevas exteriores (11-12). Este é um dos diversos pontos onde Jesus faz uma forte advertência quanto a estar perdido na noite da eternidade. Vindo no final desta demonstração de fé, o ensino é claro. Aqueles que vêm ao Reino dos céus o fazem por meio da fé. Aqueles que não possuírem esta fé serão lançados fora. O Mestre mandou que o centurião fosse para casa, com fé. E, naquela mesma

hora, o seu criado sarou (13). William Barclay desenvolve essa história sob três títulos: 1) Um pedido de um bom

homem (5-6); 2) O passaporte da fé (7-12); 3) O poder que aniquila as distâncias (13). Em um exame superficial, parece que Mateus e Lucas apresentam uma séria contradição em suas narrativas (veja o comentário sobre Lc 7.1-10). Lucas diz que o centurião não veio pessoalmente até Jesus, mas enviou alguns “anciãos dos judeus” para fazerem o pedido. Eles rogaram muito, dizendo que o centurião amava a nação judaica e que tinha construído a sinagoga deles (Lc 7.5). Quando Jesus estava a caminho da casa do homem, ele “enviou-lhe... uns amigos” para lhe dizer que não precisava vir, mas apenas pronunciar uma palavra de cura. Todo o problema fica resolvido quando identificamos o hábito de Mateus de enfocar

os acontecimentos através de um “telescópio”, resumindo os fatos por meio de uma descrição breve e genérica, sem dar todos os detalhes. Inúmeros exemplos desse fenômeno podem ser encontrados no seu Evangelho. Neste caso, o centurião veio até Jesus representado por seus amigos. E interessante observar que todos os centuriões mencionados no Novo Testamento

aparecem sob uma luz favorável. Além deste, os outros Evangelhos Sinóticos falam sobre o centurião junto à cruz, que deu um testemunho favorável por ocasião da morte de Jesus. Os demais centuriões são mencionados no livro de Atos. Um deles é Cornélio, no capítulo 10, e o outro, Júlio, no capítulo 27. Eles foram melhores do que os governadores, que eram os seus superiores hierárquicos, e do que os soldados que lhes eram subordinados.

3. A Cura da Sogra de Pedro (8.14-17) Este milagre está registrado nos três Evangelhos Sinóticos (cf. Mc 1.29-34; Lc 4.3841). Marcos e Lucas indicam que ele aconteceu quando Jesus e os seus discípulos retornavam de um culto na sinagoga, no sábado. Mas Mateus o coloca junto com uma série de eventos de cura, sem uma seqüência cronológica. Talvez Pedro estivesse embaraçado pelo fato de sua sogra não poder servir os convidados em sua casa. Mas Jesus tocou-lhe na mão, e a febre a deixou (15). O fato de que ela foi curada imediata e completamente está demonstrado pela afirmação de que ela levantou-se e serviu-os. Que emoção: “O toque da mão do Mestre na minha!” Os três Evangelhos Sinóticos também narram os muitos milagres de cura que ocorriam após o pôr-do-sol, quando o sábado já tinha terminado. Uma característica notória desta ocasião foi a expulsão dos demônios, ou espíritos (16). Como é característico, Mateus cita uma passagem do Antigo Testamento como tendo sido cumprida: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças (17). Na versão ARC da Bíblia, em Isaías 53.4 lemos: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si

as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si”. Morison afirma que essas palavras, como estão apresentadas em Mateus: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças são “uma tradução mais literal do original hebraico do que a que está apresentada na nossa versão do Antigo Testamento”.4 Além disso, “a palavra hebraica traduzida como tristezas em algumas versões, na verdade significa doenças, e é assim traduzida em quase todas as outras passagens onde aparece”.5 Filson observa que tomou e levou “têm aqui um significado pouco comum: levou embora, removeu”.






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