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N arrativa Retomada:

A REJEIÇÃO DO MESSIAS Mateus 11.1—12.50

A . Jesus e João B a t is ta , 1 1 .1 -1 9

1. A Resposta de Jesus a João (11.1-6) O primeiro versículo deste capítulo é composto por uma afirmação de transição entre o segundo discurso e a retomada da narrativa. Pela segunda vez (cf. 7.28) aparece a expressão conclusiva: E aconteceu que, acabando Jesus de dar instruções (1; exatamente a mesma expressão no texto grego, como em 7.28). Então se afirma que Jesus partiu - aparentemente sozinho - em uma missão de ensino e pregação. No próximo capítulo encontraremos os discípulos uma vez mais com Ele (cf. 12.1). Somente Mateus e Lucas (7.18-35) relatam o episódio em que João enviou dois dos

seus discípulos a Jesus. O profeta estava definhando na prisão, evidentemente tentado a desencorajar-se e a decepcionar-se. Ele tinha apresentado Jesus à nação dos judeus como o seu Messias. Ele tinha humildemente declarado: “E necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). João tinha imaginado que Jesus assumiria o papel do Messias, destruindo o opressor estrangeiro (Roma) e libertando o Seu povo da escravidão. Mas Jesus não estava fazendo nada disso. A pergunta que João fez, por meio dos seus discípulos, foi, literalmente: “Es tu aquele

que havia de vir ou esperamos outro?” Em outras palavras: “Você é realmente o Messias?” Ao invés de dar uma resposta categórica, Jesus mandou que os discípulos voltassem

até João e lhe contassem o que tinham visto e ouvido. A cura dos cegos e dos coxos (5)

era um cumprimento do papel messiânico, conforme descrito em Isaías 35.5-6. Mas o clímax era a pregação do evangelho aos pobres (cf. Is 61.1). A versão em grego diz: “Os pobres estão sendo evangelizados” (evangelizontai). Esta foi a sua principal credencial. Uma ligeira alusão ao problema de João está sugerida no versículo 6 - E bemaventurado é aquele que se não escandalizar em mim. O verbo é skandalizo, que

já observamos (veja o comentário sobre 5.29). Parece que João tropeçava no fato de Jesus aparentemente não estar fazendo nenhum esforço para estabelecer o seu reino messiânico. João Batista havia proclamado: “E chegado o Reino dos céus” (3.2). Será que ele estava enganado? Ele tinha avisado que o machado estava pronto para cortar a árvore que não produzisse bons frutos (3.10). O Juízo estava pronto para desferir o golpe. Ele havia pregado sobre Aquele que viria para “limpar a sua eira”, recolhendo no celeiro o seu trigo, mas queimando a palha com fogo que “nunca se apagará” (3.12). João sabia que a nação de Israel estava pronta para o julgamento, e ele esperava que o Messias julgasse o seu povo. O que ele não pôde perceber foi que a primeira vinda de Cristo era na graça e misericórdia. O Juízo teria que esperar pela sua segunda vinda. Muitos estudiosos sugerem que a dúvida foi dos discípulos de João, e não dele . Mas

Lenski discorda: “Este ponto de vista coloca em dúvida a integridade de João, como se ele estivesse fazendo uma pergunta que, na realidade, estava sendo feita pelos seus discípulos”.1 Além disso, Jesus disse aos discípulos que voltassem e dessem uma resposta a João. Certamente não é de surpreender que o profeta, encerrado na prisão, estivesse se debatendo em meio a sérias questões.

2. O Elogio de Jesus a João (11.7-15) Depois de ter confortado João, talvez ao mesmo tempo reprovando-o gentilmente

por sua falta de fé (6), Jesus prosseguiu, fazendo acerca dele os mais altos elogios para a multidão. O Senhor perguntou o que tinham ido ver no deserto, fazendo uma longa viagem para serem batizados por João. Uma cana agitada pelo vento (7), uma pessoa covarde e vacilante? Todos eles sabiam que João estava na prisão por sua destemida pregação perante o rei. Um homem ricamente vestido (8) - “vestido em seda e cetim” (NEB)? Todos sabiam que João usava uma roupa extremamente rústica - uma veste de pêlos de camelo e um cinto de couro (3.4). Ele era um profeta? A resposta agora era: Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta (9). Este era o mensageiro de Deus, o precursor do Messias, que tinha sido predito em Malaquias 3.1. Então Jesus fez a João o mais elevado elogio. O Senhor disse que entre todos os

homens que já haviam nascido, não tinha havido ninguém maior que ele (11). Talvez isso signifique que ele foi o maior dos profetas.2 Mas ainda assim, aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele. O famoso pregador do século IV, Crisóstomo, interpretou aquele que é o menor como uma referência a Cristo. Muitos patriarcas da igreja o acompanharam nesta interpretação, como Erasmo e Lutero. Eles se basearam na idéia de que Jesus, que foi batizado por João, e que tinha menor idade e menos fama que o profeta, pudesse ser considerado “menor”.3 Em épocas recentes, Cullman apoiou esta opinião, com base nos seus estudos dos Rolos do Mar Morto. Ele apresenta a sua opinião da seguinte forma: “O menor (ou seja, Jesus como o discípulo) é maior do que ele (ou seja, João Batista) no reino do céu”.4 Mas A. B. Bruce oferece uma refutação convincente. A respeito da opinião de Crisóstomo, ele diz: “No plano abstrato é uma interpretação possível, e expressa uma idéia que poderia até mesmo ser verdadeira; mas somente Jesus poderia tê-la confirmado”.5 Evidentemente, Cristo queria dizer que o “menor” cristão é “maior” do que João em termos de privilégio, pois aquele homem de Deus de fato estava mais ligado à ordem do Antigo Testamento. O versículo 12 é de difícil explicação. O que quer dizer a afirmação: se faz violência

ao Reino dos céus, e pela força se apoderam dele? Thayer, em seu estudo do verbo biazo (se faz violência), escreve: “O reino do céu é tomado pela violência, levado pela tempestade, isto é, uma parte do reino celestial é buscada com o mais ardente zelo e com o esforço mais intenso”.6 Esta parece ser uma interpretação sadia e confiável à luz das palavras da introdução - desde os dias de João Batista até agora.7 Em outras palavras, somente aqueles que se mostram ansiosos e dedicados a buscar o Reino de Deus é que podem entrar nele. Uma vez que o verbo biazetai pode ser passivo ou intermediário (usado com sentido ativo), Lenski prefere a seguinte interpretação: “O reino do céu avança vigorosamente, e os mais vigorosos se apoderam dele”.8 A sua conclusão é a seguinte: “A linha de todo o discurso trata não da violência contra o reino, mas sim da indiferença e da insatisfação que impedem que os homens entrem nele com entusiasmo”.9 O mesmo conteúdo dos versículos 12 e 13 é apresentado em Lucas 16.16, mas na

ordem inversa. A idéia parece ser: Todo o Antigo Testamento - todos os profetas e [até mesmo] a lei profetizaram até João (13). Ou seja, as antigas Escrituras predisseram a vinda de Cristo. Mas João teve um papel especial. Ele foi o cumprimento de Malaquias 4.5 - o Elias do Novo Testamento, o precursor do Messias. A frase Se quereis dar crédito (14) provavelmente quer dizer: “Se vocês forem capazes de entender isso”. Posteriormente, Jesus definiu João Batista como o cumprimento da profecia de Malaquias (17.10-13). Quem tem ouvidos para ouvir ouça (15) é uma expressão conhecida, encontrada

pela primeira vez nesta passagem, e em duas outras no texto de Mateus (13.9, 43). Ela também ocorre diversas vezes em outras passagens (Mc 4.9, 23; 7.16; Lc 8.8; 14.35; Ap 2.7; 3.6; 13.9). Este é um convite e, ao mesmo tempo, uma advertência a ouvirmos atentamente as palavras de Cristo.

3. Jesus Contrastado com João (11.16-19) A análise que Jesus faz das pessoas naquela geração é, ao mesmo tempo, divertida e patética. Ele disse que eram como meninos que se assentam nas praças - na Ágora, o principal ponto de encontro em qualquer cidade daquela época - e que se recusam a cooperar com os seus companheiros, tocando seja em um casamento, seja em um funeral. Como João era um ascético, diziam: ele “tem demônio” (18). Eles se recusavam a lamentar com ele. Jesus era uma pessoa sociável, que festejava com os seus amigos. O veredicto sobre Ele: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores (19). Os fariseus se recusavam a reconhecer a amizade de Jesus com os necessitados como sendo a sua maior glória, e não se alegravam com Ele pela salvação dos pecadores. A última parte do versículo 19 causou considerável discussão. Talvez a sabedoria

devesse ser personalizada (cf. Pv 8) podendo ser escrita com uma inicial maiúscula. No Livro de Provérbios, ela parece estar quase identificada com Deus. Os dois manuscritos gregos mais antigos (do século IV) dizem que a sabedoria é justificada (“aprovada”)

pelas suas “obras”, e não pelos seus “filhos”. Mas as duas idéias são muito parecidas. Micklem parece indicar o caminho para uma possível síntese das duas, quando diz: “As obras da sabedoria, que justificam o seu caráter, são os resultados da sua energia criativa... como visto nas ‘novas criaturas’ (2 Co 5.17) que são os frutos das suas obras”.10 Ou seja, a sabedoria é justificada pelos seus frutos. Assim Jesus se defende contra as críticas dos fariseus.






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