C . M a is T r ê s M i la g r e s , 8 .2 3— 9 .8
1. Acalmando a Tempestade (8.23-27) Depois do atraso causado pela conversa com os dois homens (cf. v. 18), Jesus entrou
em um barco com os seus discípulos (23). Este era provavelmente o pequeno barco de pesca de Pedro. Quando eles estavam cruzando o lago, se levantou (24) uma tempestade (seismos, “terremoto”). Enquanto o barco era coberto pelas ondas, Jesus estava dormindo (tempo imperfeito). Ele estava tão cansado que a tempestade não o despertou (veja também Mc 4.35-41; Lc 8.22-25). Muito assustados, os discípulos o despertaram com o grito: Senhor, salva-nos, que
perecemos (25). Ele primeiro os repreendeu por temerem (26; de forma literal, “covardemente”) e então repreendeu os ventos e o mar. O resultado foi uma grande bonança. Não é de surpreender que aqueles homens tenham se maravilhado (27). Em seus anos de pescaria no lago eles já tinham passado por muitas tempestades graves, mas nunca por uma que tivesse sido subitamente acalmada pela ordem de uma pessoa. A reação deles ainda hoje é pertinente: Que homem é este! Como um mero homem Ele seria completamente inexplicável.
2. Os Endemoninhados Gadarenos (8.28-34) Quando Jesus e os seus discípulos chegaram ao lado leste do lago da Galiléia - cerca
de onze quilômetros de travessia - eles se encontraram no país dos Gergesenos. Isto pode representar a vila de Khersa, cujas ruínas estão próximas à única colina perto da costa leste. Mas em alguns manuscritos gregos consta “gerasenos” (a leitura em Marcos e Lucas). Gerasa estava a cerca de 48 quilômetros a sudeste do lago. “Gadareno” é o termo que os mais antigos manuscritos gregos apresentam no texto de Mateus. Gadara era a cidade mais próxima, a quase dez quilômetros de distância. O fato de Mateus mencionar dois (28) endemoninhados, ao passo que Marcos e
Lucas falam somente de um, pode ser devido à sua mente de contador. Sendo um coletor de impostos, ele tinha que manter estatísticas cuidadosas. Os outros dois evangelistas podem ter mencionado somente o mais proeminente dos dois. Embora a descrição de Marcos seja mais completa e vívida, Mateus é o único que diz
que tão ferozes eram, que ninguém podia passar por aquele caminho. Esses dois homens estavam colocando em perigo a vida dos habitantes daquela região. Os demônios, como em outras ocasiões, reconheceram Cristo como sendo o Filho
de Deus e temeram o tormento que inevitavelmente sofreriam (29). Atendendo um pedido, Jesus permitiu que os demônios entrassem em uma manada de porcos que estava nas proximidades - Marcos afirma que eram quase dois mil. O resultado foi que toda a manada morreu nas águas do lago (30-32). Aqueles que guardavam os porcos fugiram até à cidade para contar tudo o que havia ocorrido (33). Toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus (34). O povo, tomado pelo medo (Lc 8.38) rogou que Ele se retirasse do seu território (das suas “fronteiras” ou do seu “distrito”). Eles tiveram medo do poder de Jesus. Como de costume, a narrativa de Mateus é muito mais curta do que a de Marcos
(5.1-20), ou mesmo do que a de Lucas (8.26-39). Ele deixa de lado muitos dos detalhes encontrados nos relatos dos outros dois evangelistas, de acordo com o seu procedimento usual de resumir o material da narrativa. Algumas vezes, duas questões têm sido formuladas a respeito desse acontecimento.
A primeira é: Por que Jesus permitiu que esses porcos fossem destruídos? Houve quem sugerisse que Ele queria confirmar a fé dos dois endemoninhados curados, por esta evidência visível de que os demônios haviam realmente deixado os seus corpos. Alguns pensam que Jesus fez isso para mostrar à multidão o poder tremendo e as tendências destrutivas que os demônios possuem. Trench escreve sobre o relato onde somente é mencionado um endemoninhado: “Se esta concessão ao pedido dos espíritos maus ajudou de alguma maneira a cura deste sofredor, fazendo com que eles relaxassem a sua posse do corpo dele com maior facilidade, aliviando o ataque através de sua saída, este teria sido um motivo suficiente para permitir que aqueles animais morressem. Para a cura definitiva do homem poderia ter sido necessário que ele tivesse esta evidência exterior e o testemunho de que os poderes infernais que o mantinham aprisionado agora o haviam deixado”.10 Uma segunda pergunta que se faz é a seguinte: Que direito tinha Jesus de destruir
a propriedade de outras pessoas? A resposta para esta pergunta é mais difícil. Se tivéssemos certeza de que os donos eram judeus, isto ofereceria uma solução simples. Os judeus deveriam evitar as carnes impuras, o que incluía os porcos. Mas Decápolis era uma região de população predominantemente gentílica. De qualquer forma, o caráter de Cristo garante que Ele não faria nada injusto. Os atos de Deus não podem ser sempre julgados segundo os padrões dos homens. Porém devemos sempre nos lembrar de que Deus não fica devendo nada a ninguém. Se tivéssemos mais informações, poderíamos entender melhor esta situação.
3. A Cura do Paralítico (9.1-8) Deixando Decápolis, como lhe havia sido solicitado, Jesus passou para a margem
oeste (veja o mapa), à sua cidade (1). Esta cidade era Cafarnaum, que Ele tinha escolhido como o quartel-general para o seu ministério na Galiléia. Ela estava localizada na costa noroeste do Lago da Galiléia. Ah trouxeram a Ele um paralítico - uma única palavra em grego,paralyticon. Quando
Jesus viu a fé deles - provavelmente tanto a do homem enfermo quanto a dos seus amigos - disse ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados (2). O texto grego diz: “Os seus pecados estão perdoados”. Este já era um fato concreto. Os judeus acreditavam que as enfermidades eram conseqüências do pecado na vida de uma pessoa (Jo 9.2). Existe a possibilidade de que a paralisia deste homem tenha sido causada, em parte, por um severo complexo de culpa, e que ele precisasse, antes de mais nada, cuidar desse aspecto. Alguns escribas ali sentados pensaram: Ele blasfema (3). Jesus, conhecendo os
seus pensamentos, perguntou: Por que pensais mal em vosso coração? (4). A absolvição do homem pecador colocou Cristo em uma posição difícil no conceito desses fariseus. “Ou Ele era o Filho de Deus ou - como os escribas disseram segundo o ponto de vista deles - era um blasfemo.”11 Ele já tinha demonstrado suficientemente a sua divindade, mas eles ainda não criam nele. Agora, a realização do milagre justificava a sua reivindicação de ter o direito divino de perdoar os pecados. O que é mais fácil? perguntou Jesus: Dizer ao paralítico: Perdoados te são os
teus pecados, ou: Levanta-te e anda? (5). A resposta dos escribas teria sido a primeira. Pois ninguém poderia confirmar os resultados desta afirmação. Mas Jesus curou o corpo do homem - um fato possível de ser observado - como prova de que Ele tinha perdoado os seus pecados. A cura deste paralítico de Cafarnaum é “a primeira história que coloca o divino
poder de cura de Jesus em uma relação direta com o seu divino poder e autoridade para perdoar pecados”.12 Como no caso do evento anterior, a narrativa de Mateus é muito mais curta e menos
vívida do que a de Marcos (2.1-12) ou do que a de Lucas (5.17-26). Ele não diz nada sobre os quatro homens (Marcos) que traziam o paralítico, descobrindo o telhado e fazendo um buraco nele (Marcos e Lucas). Uma cuidadosa comparação destes três relatos fornece uma amostra legítima das diferenças típicas dos três Evangelhos no tratamento do material da narrativa.
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