E. A V ida dos D iscípulos, 7.1-29 1. Advertências e Exortações (7.1-23) a)
Censura (7.1-5). Um espírito crítico é uma negação da verdadeira religião. Este
era um dos piores defeitos dos fariseus. Assim, Jesus advertiu os seus seguidores: Não julgueis, para que não sejais julgados (1). Usando o termo no sentido popular, poderíamos parafrasear assim: “Não seja crítico, ou você será criticado”. Uma tradução livre ainda melhor seria: “Não condene os outros, ou você mesmo será condenado”. Como Buttrick diz: “A censura crítica é um bumerangue”.63 O problema de julgar os outros é que nos colocamos acima daqueles que julgamos. Bowman e Tapp traduzem assim este versículo: “Não se ‘sente no tribunal’ a não ser que você tenha vindo para ser julgado!”.54 Oswald Chambers adverte os seus leitores: “Cuidado com qualquer coisa que o coloque no lugar de uma pessoa superior”.55 Deve ser notado que vários comentaristas interpretam a segunda oração do primeiro versículo como se referindo ao dia do juízo final. Se julgarmos os outros seremos julgados por Deus (ou Cristo). No versículo 2, Jesus declara, de forma dupla, um dos princípios básicos da vida. Ele
pode ser colocado mais brevemente desta forma: ‘Você recebe o que você dá”. Dê um sorriso e você receberá um sorriso; dê um resmungo e você receberá um resmungo. Então Jesus ilustrou a incoerência de um espírito crítico (3-5). Um homem vê um
argueiro (3) - “grão” ou “lasca” - no olho de seu irmão e quer tirá-lo. Mas na verdade ele tem uma trave ou “tronco” em seu próprio olho. O Mestre sugeriu que seria melhor para o crítico tirar primeiro a trave de seu próprio olho, para que ele pudesse enxergar mais claramente a fim de tirar o argueiro do olho de seu irmão. Jesus estava, obviamente, falando por meio de uma hipérbole. Mas Ele estava usando o forte princípio pedagógico de que as pessoas se lembram mais facilmente daquilo que lhes parece mais ridículo. Ninguém jamais poderia se esquecer do quadro que ele pintou aqui.
Alguém que mostra um espírito agressivo e crítico ao criticar um defeito insignificante em um companheiro cristão, na verdade tem uma tora de madeira em seu próprio olho. A falta de amor sempre distorce a visão. O que Jesus está dizendo é: Você não pode ajudar outro companheiro até que tenha se livrado dessa atitude crítica que possui.
b) Consagração (7.6). A maioria dos comentaristas interpreta este versículo como
uma advertência contra compartilhar ricas verdades espirituais com ouvintes indignos. Jones, no entanto, opõe-se a esta opinião, alegando que ela não se encaixa no contexto, nem representa o pensamento de Cristo. Assim, ele oferece a seguinte interpretação alternativa: “Não devemos tomar a parte santa da personalidade que está sendo aperfeiçoada, e dá-la aos cães do desejo, nem tomar as pérolas da nossa vida espiritual e lançálas aos porcos, aos nossos apetites mais baixos, para que eles não pisem a parte santa no lamaçal, e, voltando-se, despedacem o bem mais precioso que possuímos, ou seja, a nossa vida espiritual”.56
c) Pedir (7.7-12). Pedir, buscar, bater. O primeiro sugere uma oração sincera, o segundo uma oração fervorosa, e o terceiro uma oração desesperada. E talvez sugerido - e a experiência parece apoiar este pensamento - que às vezes é necessário simplesmente pedir (7) a fim de obter a resposta. Se ela não vier, deve-se começar uma oração perseverante; deve-se buscar. Se a resposta ainda estiver demorando, pode ser necessário bater, em uma oração desesperada, e até mesmo agonizante. Mas a promessa é que todos esses tipos de oração serão recompensados (8). Alexander Maclaren tem um sermão baseado nesta passagem chamado “A Nossa
Batida”. Ele analisa a verdade através de perguntas investigativas: 1) A quem estas exortações são corretamente dirigidas? 2) Em que parte da vida estas promessas são verdadeiras? 3) De que condições dependem estas promessas? Jesus usou a analogia de um pai humano. Nem um dos seus ouvintes daria ao seu
filho uma pedra por pão, ou uma serpente por um peixe (9-10). A conclusão, então, é que se nós, sendo maus - “mau como você e eu somos em comparação com o Pai”57 damos boas coisas aos nossos filhos, quanto mais o Pai Celestial dará boas coisas - e Lucas traz a expressão “o Espírito Santo” (Lc 11.13) - aos que lhe pedirem (11). Não se pode fugir à lógica. Achamada regra de ouro (12) resume a lei e os profetas; isto é, o Antigo Testamento. O cristianismo não é nada menos, mas é algo mais. A regra de ouro havia sido declarada na forma negativa antes da vinda de Cristo.
Confúcio disse: “Não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você”. Os mestres judeus tinham um ditado similar. Mas é geralmente reconhecido que Jesus foi o primeiro a apresentá-lo de uma forma positiva. Isso é algo muito diferente. Deixar de ferir é uma coisa; estender uma mão para ajudar, é outra. Esta atitude positiva é ilustrada pela parábola do Bom Samaritano (Lc 10.30-35).
d) Dois Caminhos (7.13-14). A idéia de dois caminhos é familiar no Antigo Testamento (cf. SI 1; Jr 21.8). Mas Jesus chamou a atenção para as portas. Estreita (13); a mesma palavra do versículo 14. A tradução literal é “apertada”. O termo grego para larga significa “espaçosa”. O “cristianismo do caminho largo” não levará ninguém para o céu. Este é um pensamento solene que Jesus declarou; poucos encontrariam o caminho que leva à vida.
e) Falsos Profetas (7.15-20). Jesus teve que advertir os seus discípulos contra aqueles que viriam vestidos como ovelhas. Eles ajuntariam o rebanho de crentes, como se fossem um com eles, mas interiormente (15) seriam lobos devoradores. A igreja de Jesus Cristo tem sido afligida por esses falsos profetas ao longo de toda a sua história. Eles às vezes têm feito muito para destruir o rebanho. Como podem ser reconhecidos? Por seus frutos os conhecereis (16). Cristo usou a analogia de vinhas e árvores frutíferas. Cada uma produz seus próprios frutos. Se a árvore for má, os frutos serão maus. O inverso também é verdadeiro. A árvore que não produz bons frutos corta-se e lança-se no fogo. Esta é uma advertência solene. Aqueles que não estão produzindo bons frutos não pertencem a Cristo (19).
f) Falsa Profissão de Fé (7.21-23). Enquanto a advertência anterior estava particularmente voltada aos líderes religiosos, esta trata do grupo de membros dentro da Igreja. O verdadeiro teste do discipulado é a obediência. Nem mesmo a pregação e a operação de milagres em Nome de Jesus Cristo prova que uma pessoa é aceita diante de Deus. O termo demônio, diabolos (“Diabo”) é sempre singular no grego. A palavra aqui é plural, daimonia, “demônios”. A penalidade para a desobediência é a separação de Deus.
2. A Conclusão do Sermão (7.24-29) a) Ilustração Final (7.24-27). Aquele que ouve e pratica é como um homem que construiu a sua casa sobre a rocha. Quando as tempestades batem contra a casa com toda a sua fúria, ela ainda permanece firme. O termo enchente, utilizado por algumas versões, significa, literalmente, rios. O clima da Palestina é como o do sul da Califórnia, sob muitos aspectos. Os leitos dos rios ficam secos durante a maior parte do ano. Mas quando as chuvas do inverno e da primavera chegam, surgem as inundações. Jesus retratou o ouvinte descuidado como um homem que de forma insensata construiu a sua casa sobre a areia, e então a perdeu. As casas na Palestina são em sua maioria construídas com pedras ou com tijolos secos ao sol. Quando as tempestades dissolvem a argamassa, as paredes tendem a cair.
b) A Reação da Multidão (7.28-29). Quando Jesus concluiu o seu sermão, o povo se
admirou da sua doutrina - ou melhor, do seu “ensino”. Ele ensinava com autoridade (29). As pessoas comuns sentiram a sua autoridade divina, que faltava aos escribas, e a reverenciaram. Os escribas tinham o hábito de citar antigos mestres como apoio aos seus ensinos.
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