Seção VII
Narrativa Retomada: VIAGENS DE JESUS
Mateus 13.53—17.27 A. R e je ição de Jesus e de João , 13.53—14.12
1. Rejeição em Nazaré (13.53-38) O versículo 53 contém a fórmula habitual que encerra cada um dos cinco discursos
de Jesus. Essa é a terceira vez que isso ocorre (cf. 7.28; 11.1). Depois de ter contado as sete parábolas do Reino, Jesus se retirou dali (53) - provavelmente de Cafarnaum - e retornou à sua pátria (54), isto é, Nazaré (veja o mapa). Lá Ele ensinava-os - “estava ensinando” (tempo imperfeito) - na sinagoga deles. Essa é, provavelmente, a mesma sinagoga onde Ele havia adorado desde os doze até os trinta anos de idade. A atitude de seus conterrâneos foi a que geralmente seria de se esperar, tratando-se
de um jovem daquele lugar: Donde veio a este a sabedoria e estas maravilhas? Não parece estranho o fato de sermos capazes de rejeitar facilmente uma reconhecida sabedoria e até obras notáveis quando elas aparecem em lugares inesperados? O povo ainda o considerava o filho do carpinteiro (55) - Marcos usa a expressão “o carpinteiro” (Mc 6.3). Eles conheciam sua mãe e seus irmãos, sendo que os nomes de quatro deles são mencionados aqui. São nomes judeus muito comuns, encontrados freqüentemente no Novo Testamento. Jesus também tinha irmãs (56) e todas elas ainda estavam vivendo em Nazaré - mas não sabemos exatamente o seu número. Escandalizavam-se nele (57) As pessoas se sentiam inseguras pelo fato de o conhecerem muito bem desde criança.
Essa reação indica que Jesus havia tido uma vida bastante normal até os trinta anos de idade, e que durante esse período nunca havia realizado nenhum evento sobrenatural. A menção dos irmãos e irmãs de Jesus levanta, imediatamente, a questão da perpétua virgindade de Maria, sua mãe - um dogma da igreja católica romana que não encontra respaldo nas Escrituras. No século IV, Helvídio (380 d.C.) afirmou que eles eram filhos de José e Maria. Essa é a opinião mais natural, especialmente devido ao fato de os nomes de seus irmãos terem sido mencionados aqui. Essa opinião é provavelmente apoiada pela maioria dos protestantes e evangélicos. Epifânio (382 d.C.) afirmou que eles eram meio-irmãos de Jesus, filhos de um casamento anterior de José. O fato de o nome de José não ser mais mencionado depois que Jesus iniciou o seu ministério público, levou à conclusão de que ele devia ser um homem de certa idade, e que já havia morrido. Essa é a opinião oficial da Igreja Ortodoxa Grega e tem o apoio de um número considerável de protestantes e anglicanos. Jerônimo (383 d.C.) deu um passo adiante. Ele considerou os “irmãos” como “primos”. Essa interpretação foi finalmente adotada pela igreja católica romana. Ela faz parte da sublimação e da adoração da “Virgem Santíssima”, agora fortalecida pelos dogmas oficiais romanos da sua Imaculada Conceição e da Assunção de seu corpo. Jesus respondeu à atitude de seus antigos vizinhos citando um velho provérbio (57).
O aspecto mais triste é que Ele foi impedido de fazer ali muitas maravilhas, por causa de incredulidade deles (58). A descrença sempre impede que as pessoas recebam a graça de Deus. Esse incidente também foi registrado em Marcos 6.1-6. Um ponto que ainda deve ser
discutido é se essa viagem a Nazaré é a mesma descrita de forma mais extensa e detalhada por Lucas. Alguns bons estudiosos são a favor de duas visitas, outros encontram evidências suficientes para uma única visita. Veja os comentários sobre Lucas 4.16-32.
2. A Morte de João Batista (14.1-12)1 Herodes, o tetrarca, (1) que havia construído a cidade de Tiberíades no lado ocidental do lago da Galiléia para ser a sua capital, era o governador da Galiléia e da Peréia. Filho de Herodes, o Grande, e de uma mulher samaritana, ele era chamado de Antipas; portanto, seu nome correto era Herodes Antipas. Ele governou de 4 a.C. até 38 d.C. A palavra tetrarca significa literalmente “governador de uma quarta parte”, mas tinha um sentido geral de governador de uma pequena região. Quando Herodes ouviu a fama de Jesus como um Operador de Maravilhas, disse
aos seus criados2: Este é João Batista (2). Sua consciência ainda o atormentava porque havia matado o santo profeta. Ele acreditava que somente João podia realizar os milagres que haviam sido atribuídos a Jesus. Herodes havia mandado capturar, amarrar e prender João por causa de Herodias (3), porque o profeta lhe havia dito: Não te é lícito possuí-la (4). Herodes Antipas era casado com a filha de Aretas, rei dos árabes nabateus. Mas em
uma visita a Roma, ele se hospedou na casa do seu meio-irmão Filipe e se apaixonou pela cunhada, levando-a consigo para a Galiléia. Sabendo do acontecido, sua primeira esposa fugiu para a casa do pai e este enviou um exército que derrotou Herodes Antipas. De acordo com Josefo, muitos judeus consideravam essa derrota como um castigo divino lançado contra o tetrarca por ter matado João.
Depois que João foi preso, Antipas, querendo matá-lo, temia o povo (5). Aparentemente, isso parece ir de encontro com a afirmação de Marcos (conforme está escrito no texto grego): “E Herodias o espiava e queria matá-lo, mas não podia; porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo; e guardava-o com segurança e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa vontade o ouvia” (Mc 6.19-20). Mas é preciso lembrar novamente que Mateus tinha o hábito de observar as coisas de longe, omitindo detalhes e incluindo apenas observações gerais. Parece não haver dúvida de que Antipas queria mandar executar João. Carr inclui esse útil comentário: “A narrativa de Marcos nos dá um quadro das intrigas internas da corte e provas do forte questionamento de alguma testemunha ocular dos fatos”.4 Herodias suportou a situação por algum tempo. Ela esperava uma ocasião apropriada para submeter o profeta aos seus desígnios assassinos. Finalmente chegou o momento - o dia natalício de Herodes. Com toda a esperteza e malícia que uma mulher inteligente consegue acumular, ela formulou o seu plano. Estava tão desesperada para realizar esse feito covarde que se dispôs a desgraçar sua filha (Salomé) aconselhando -a executar uma dança sensual à frente de um grupo de homens embriagados. Sua astúcia foi recompensada. Herodes, bêbado e apaixonado, prometeu, com
juramento dar à jovem tudo o que pedisse (7). Ela, instruída previamente por sua mãe (8), pediu a cabeça de João Batista em um prato. Mas esse relato parece estar em conflito com a afirmação de Marcos de que a jovem saiu e perguntou à sua mãe o que deveria pedir (Mc 6.24). A solução do problema é simplesmente corrigir a tradução de Mateus. A frase instruída previamente deve ser traduzida como “incitada” *ou “instigada”. De acordo com o seu costume de fazer generalizações, Mateus simplesmente afirma que Salomé agiu instigada pela mãe. Marcos, seguindo sua própria característica, preenche os detalhes de que ela saiu e consultou sua mãe. O rei (9), título de cortesia para o tetrarca, ficou triste. Isso está de acordo com o
quadro que Marcos fez de Antipas, onde diz que ele talvez gostasse de João secretamente e talvez também tivesse medo dele. Mas, por causa dos convidados, Herodes manteve sua promessa e ordenou a execução. A cabeça de João Batista foi oferecida à jovem e ela a ofereceu à mãe (11). Seu corpo foi enterrado pelos discípulos entristecidos (12). O ódio humano havia vencido a batalha. Essa dramática história pode ser facilmente resumida. Podemos pensar em: 1) A filha dançando; 2) O déspota embriagado; 3) O ato covarde.
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