B . M i la g r e s P o s te r io re s , 1 4 .1 3 -3 6 1. Mais de Cinco Mil Foram Alimentados (14.13-21) A alimentação de mais de cinco mil pessoas tem a característica de ser o único milagre de Jesus que foi registrado nos quatro Evangelhos. Ele também é encontrado em Marcos 6.30-44; Lucas 9.10-17 e João 6.1-14. Quando Jesus, provavelmente nas vizinhanças de Cafarnaum, ouviu sobre o assassinato de João Batista, ele atravessou o lago da Galiléia, em um barco, chegando até a sua margem oriental. Era um lugar tranqüilo, um lugar deserto (13), isto é, uma área desabitada. Tanto Ele como os seus discípulos precisavam de descanso, e de uma mudança.
Mas quando as multidões souberam para onde Ele tinha ido, o seguiram à pé, ou
“por terra”, dando a volta na extremidade norte do lago. E possível medir a velocidade de um barco da época: talvez as pessoas tenham conseguido fazer um percurso de 13 quilômetros, enquanto os discípulos, remando, percorreram cerca de 10 quilômetros. Quando Jesus desceu do barco, encontrou uma grande multidão à sua espera. Ao
invés de se aborrecer com a sua presença, Ele foi possuído (“dominado”) de íntima compaixão para com ela e curou os seus enfermos (14). Quando anoiteceu, os discípulos se aproximaram de Jesus lembrando que a hora
do jantar já havia passado: a hora é já avançada (15). Melhor seria enviar a multidão embora para que as pessoas pudessem ir para as vilas mais próximas, e comprar comida. A réplica de Jesus foi a seguinte: Dai-lhes vós de comer (16). Os discípulos protestaram. Havia apenas cinco pães e dois peixes (17). Esses pães tinham o tamanho e a forma de uma pequena panqueca ou de um biscoito plano. A soma total das provisões disponíveis correspondia exatamente ao lanche de um menino (Jo 6.9). Mas os discípulos haviam feito esse cálculo sem levar em conta o seu Mestre. Ele pediu que esse lanche simples lhe fosse trazido (18). Depois de mandar que a multidão
se assentasse (19; o termo grego é “reclinar”) sobre a erva - Marcos diz que a erva era “verde”, mostrando que era primavera - Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, os abençoou, e, partindo... deu-os aos discípulos que, por sua vez, os distribuíram à multidão. Um aspecto digno de nota é que os discípulos executaram a ordem de Cristo. Eles
realmente alimentaram a multidão quando se associaram a Jesus nesse ato. O que cada cristão pode aprender é que, não importa o quanto sua tarefa lhe pareça impossível, com a ajuda divina tudo pode ser feito. “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37). Todas as pessoas comeram e saciaram-se (20). O verbo chortazo (ficaram satisfeitas) vem do substantivo chortos, “grama”. Era usado principalmente para animais pastando. O quadro geral é do gado comendo até ficar saciado e depois se deitando satisfeito sobre a grama. Arndt e Gingrich dizem que no modo passivo (como aqui) ele significa “comer até se encher, até ficar satisfeito”.6 Essa é a ênfase aqui. Todas essas pessoas comeram o suficiente, até ficarem “satisfeitas”. Essa é a melhor tradução. Dos pedaços que sobejaram - nos cestos dos discípulos e provavelmente em uma
pilha sobre a grama limpa em frente a Jesus - eles levantaram doze cestos cheios. Isto é, cada apóstolo foi capaz de encher o cesto do seu lanche com alimento para o dia seguinte. A multidão que foi alimentada compunha-se de quase cinco mil homens (21). Somente Mateus, o estatístico, acrescenta, além das mulheres e das crianças. Se a multidão fosse composta por peregrinos prontos para comparecer à celebração da Páscoa, haveria poucas mulheres e crianças (Jo 6.4-5). Essa distinção reflete o fato de que em público - como ainda acontece entre os orientais - as mulheres e as crianças nunca comem junto com os homens. Acima de qualquer discussão, aquele era um mundo dos homens.
2. Jesus Caminha Sobre as Águas (14.22-27)6 O Mestre imediatamente ordenou aos seus discípulos que partissem. O verbo é
bastante forte, significando “obrigar, forçar”. Arndt e Gingrich sugerem aqui a tradução:
“Ele fez com que os seus discípulos embarcassem”.7 Por quê? João tem a resposta: “Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte” (Jo 6.15). Ele não queria que os seus discípulos permanecessem em um ambiente tão revolucionário, nem queria que a Sua presença desse motivo para tal movimento. Ele não estava ali para estabelecer um reino político em oposição ao governo de Roma, mas para estabelecer o seu Reino espiritual no coração dos homens. Jesus percebeu o fato de que esses inconstantes galileus estavam prontos para dar início a outra revolta contra Roma. Portanto, ordenou que os seus discípulos se retirassem do local, dispensou a multidão e partiu para orar a sós. E, chegada já a tarde (23) corresponde exatamente à frase grega “quando já era
noite” (15). Mas, neste intervalo, a alimentação de mais de cinco mil pessoas já havia acontecido. Essa atividade deve ter durado pelo menos uma ou duas horas. Como podemos, então, harmonizar essas duas expressões de tempo? A resposta se encontra na distinção entre a “primeira tarde” (que começa por volta das 3 horas da tarde) e a “segunda tarde” (que acontece depois do pôr-do-sol). A palavra para tarde significa, literalmente, “uma hora mais avançada”. A frase como um todo (23) significa “quando ficou tarde”. Arndt e Gingrich sugerem:
“Muitas vezes o contexto torna mais fácil decidir exatamente qual é o tempo que se pretende, se antes ou depois do pôr-do-sol”.8 Quando chegou a noite, Jesus estava sozinho no monte. Enquanto isso, o barco estava no meio do mar (24) - aproximadamente na metade do lago. O texto grego de M’Neile diz: “Longe da terra, a muitos estádios”. Isso está admiravelmente de acordo com a afirmação de João de que os discípulos haviam remado cerca de vinte e cinco ou trinta estádios (Jo 6.19), isto é, de cinco a sete quilômetros. Em sua extremidade norte, onde eles estavam, o Lago da Galiléia tem cerca de onze quilômetros de largura. O barco estava sendo açoitado pelas ondas. Carr comenta: “Essa expressão é muito
enérgica, ‘torturado pelas ondas’, contorcendo-se nos espasmos da agonia, por assim dizer”.9 O Lago da Galiléia é famoso por suas repentinas e terríveis tempestades. O escritor deste livro nunca se esqueceu da tempestade que enfrentou nesse mesmo lago em 1953. Parecia que o barco de pesca iria certamente afundar cada vez que despencava em uma profunda depressão que se formava entre ondas gigantescas. Porém, rangendo, gemendo, tremendo todo, ele conseguiu atravessar as ondas sucessivas, enquanto torrentes de água inundavam a proa. O potente motor desse moderno barco de pesca fazia com que ele continuasse a navegar para frente. Mas os discípulos tinham que se contentar em lutar inutilmente com seus remos para enfrentar o forte vento contrário que vinha do norte. Quando as coisas pioraram, na quarta vigília da noite (das 3 às 6 horas da madrugada), Jesus se aproximou, caminhando por cima do mar (25). Os discípulos assustaram-se (26), melhor dizendo, “ficaram apavorados” - pensando que Ele fosse um espírito ou um fantasma (em grego, phantasma). Tomados de terror por causa da tempestade e apavorados pela aparição, eles gritaram. O verbo significa “gritar, berrar, bradar”.10 Jesus os tranqüilizou imediatamente com as palavras: Tende bom ânimo, sou eu;
não temais (27). A redação grega diz, literalmente: “Tenham coragem, sou eu, parem de ter medo”. Essa ainda é a mensagem de Cristo em meio às tempestades da vida.
3. Pedro Caminha Sobre as Águas (14.28-33) Esse é um episódio singular, encontrado apenas em Mateus. Pedro ficou tão intrigado ao ver Jesus caminhando sobre as águas, que disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas (28). Essa frase está de acordo com a natureza impulsiva de Pedro. Como diz M’Neile àqueles que duvidam da veracidade da história: “Um forte ponto a favor da história é o seu fiel reflexo do caráter do apóstolo”.11 Confiante, Pedro respondeu ao convite do Mestre: Vem (29), e começou a caminhar sobre as águas. O texto grego mais antigo diz: “Pedro caminhou sobre as águas e veio a Jesus”. Aparentemente, ele havia quase alcançado Cristo antes de perder a fé. Mas sentindo o vento forte (30), mais precisamente, os seus efeitos, ele se atemorizou. Começando a ir para o fundo - esse enérgico verbo composto significa “afundar no mar profundo”12 - ele gritou, Senhor, salva-me. Imediatamente, Jesus, estendendo a mão, segurou-o (31) - literalmente, “apanhou-o”. Isso mostra que Pedro estava à distância de um braço. Gentilmente, o Mestre repreendeu seu ambicioso discípulo pela sua pequena fé. Parecia que a fé de Pedro era bastante grande quando ele saiu do barco e pisou na água. Mas, ela devia estar misturada com alguma presunção. Logo que entrou no barco junto com Pedro, Cristo acalmou o vento (32). A raiz
grega sugere “tornou-se exausto, fadigado”. Os discípulos que estavam no barco se aproximaram e o adoraram como o Filho de Deus (33). Para eles, a sua presença e poder eram prova da sua divindade.
4. A Cura em Genesaré (14.34-36) Depois de atravessar para a outra banda do lago, do leste para o oeste, eles
desembarcaram em Genesaré (34). Esta era uma planície que se estendia por aproximadamente cinco quilômetros ao longo da margem ocidental do lago da Galiléia, perto da sua extremidade norte, e que alcançava a largura de dois quilômetros e meio em direção ao interior. Josefo descreve essa área com muito entusiasmo por ser extremamente fértil.13 Era uma região densamente povoada, e logo a multidão se reuniu novamente para ser curada. Os doentes imploravam a permissão de ao menos tocar a orla da sua veste
(36). Essa orla do manto judeu é descrita em Números 15.38-39. Carr a explica assim: “Em cada canto do manto havia uma borla e cada borla tinha um fio azul evidente que simbolizava a origem celestial dos Mandamentos”.14 A frase todos os que a tocavam ficavam sãos é representada por uma única palavra grega. E uma expressão forte e que sugere uma cura completa.
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