D. M a is M i la g r e s , 15.21-39
1. A Cura da Filha da Mulher Cananéia (15.21-28) Depois de sua conversa com os fariseus, Jesus viajou em direção ao norte, para a
costa - “região ou “distrito” - de Tiro e Sidom (21). Essas duas cidades estavam localizadas na Fenícia (atualmente, o Líbano) que era um território gentílico (veja o mapa). Jesus desejava ficar sozinho com os seus discípulos para instruí-los. Ao chegar, Ele foi procurado por uma mulher cananéia (22). Em Josué 5.12 a
“terra de Canaã” (do Hebraico) aparece na versão da Septuaginta em grego como o “país dos fenícios”. Essa mulher era estrangeira e pagã. No entanto, ela veio a Cristo. Marcos, que é o único outro autor que registrou esse episódio (Mc 7.24-30), diz que ela era “grega, siro-fenícia de nação”. Portanto, as duas descrições estão essencialmente de acordo.
Ela vinha daquelas cercanias. Essa é uma palavra grega totalmente diferente daquela que foi traduzida como costa, em algumas versões, no versículo 21. Aqui ela significa literalmente “fronteiras” ou “limites”. No versículo 21 ela consta, em várias versões, como “partes”. Essa mulher se dirigiu a Jesus da seguinte forma: Senhor, Filho de Davi, isto é,
Messias. Ela pode ter estado entre aqueles que eram das “partes de Tiro e de Sidom”, que tinham vindo ao Lago da Galiléia para ver Jesus (Mc 3.8). Agora ela implorava por misericórdia. Sua filha estava miseravelmente endemoninhada, o que está de acordo com os originais gregos. No início, Jesus não lhe respondeu palavra (23). Finalmente, os discípulos chegaram e começaram a pedir: “Despede-a, que ela vem gritando atrás de nós” (tradução literal). Eles estavam aborrecidos porque a mulher continuava a segui-los, “gritando” por ajuda. Provavelmente queriam que o Mestre fizesse o que ela pedia, para assim ficarem livres dela. Ao responder, Cristo informou à suplicante que Ele havia sido enviado apenas às
ovelhas perdidas da casa de Israel (24). Primeiro com o seu silêncio e depois com uma afirmação direta, Ele rejeitou o pedido. Carr expressa corretamente o propósito de Cristo: “Por meio de sua recusa, Jesus estava testando a fé dessa mulher, para poder torná-la mais pura e profunda”.21 Para não ser repelida, a mulher se aproximou e adorou-o - “ela se ajoelhou perante
Ele” - implorando: Senhor, socorre-me (25). Este verbo significa auxiliar alguém que está pedindo socorro. Aparentemente, a resposta de Jesus parece não ser nada menos que um insulto. Ele
disse que não era apropriado (literalmente bom) pegar o pão dos filhos (dos judeus) e deitá-lo aos cachorrinhos (26). Geralmente, os judeus chamavam os gentios de “cães”, isto é, “impuros”. Esta expressão parece fora de propósito, saindo dos lábios de Cristo. Entretanto, a palavra grega significa “cachorrinhos”. Como diz Morrison: “Nosso Salvador não estava se referindo aos cães selvagens, violentos, imundos e sem dono que perambulavam pelas cidades do Oriente, mas aos cachorrinhos de estimação nos quais as crianças estão interessadas e com os quais elas brincam”.22 Weatherhead também acredita que Jesus pode ter usado um tom de voz ou um certo olhar para dizer à mulher que com essa expressão Ele estava principalmente censurando os discípulos pela sua atitude mesquinha e nacionalista.23 A reposta da mulher foi, em todos os sentidos, notável. Ao invés de se ressentir por
ter sido classificada como “cachorrinho” por parte de Cristo, ela aceitou a situação. Mas tirou dela o maior proveito possível. Tudo que pedia eram as migalhas que caem da mesa (27). Ela cria que essas migalhas iriam atender às suas necessidades. Em outras palavras, o poder do Mestre era tão grande, que não seria necessária uma parte expressiva dele para expulsar o demônio do corpo da sua filha. Não é de admirar que Jesus tenha respondido: O mulher, grande é a tua fé (28). Seu pedido foi atendido de forma imediata e plena. Esse incidente foi bem resumido por G. Campbell Morgan: “Contra o preconceito,
ela veio; contra o silêncio, perseverou; contra a exclusão, prosseguiu; e contra a rejeição, ela venceu”.
2. As Multidões São Curadas (15.29-31) Depois de seu breve retiro com os discípulos, mesmo com as costumeiras interrupções, Jesus partiu e chegou ao pé do mar da Galiléia (29). Marcos (7.31) nos conta que Ele foi a Decápolis, a leste do lago, onde subiu a um monte e assentou-se para ensinar. Grandes multidões vinham à sua procura, trazendo indivíduos coxos, cegos, mudos, aleijados e outros muitos (30). Isso nos dá alguma idéia da grande incidência de doenças e de calamidades naqueles dias onde não havia hospitais, e o número de médicos era bastante reduzido. Até hoje afirma-se que cerca da metade das crianças árabes que vivem nas cidades têm doenças nos olhos por falta de saneamento básico. Jesus curou todos aqueles que se apresentaram. Isso despertou grande assombro e admiração entre o povo, levando as pessoas a glorificar a Deus (31).
3. Mais de Quatro Mil Pessoas São Alimentadas (15.32-39) Embora a alimentação de cinco mil pessoas tenha sido registrada nos quatro Evangelhos, este episódio só é encontrado em Mateus e Marcos (8.1-9). Uma multidão havia permanecido ao lado do Mestre durante três dias, e toda a comida havia sido consumida. Ele não estava disposto a mandar as pessoas embora em jejum (famintas), para que não desfalecessem a caminho de casa (32). Os discípulos protestaram, dizendo que não havia pão no deserto para alimentá-los (33). Tudo que tinham eram sete pães e uns poucos peixinhos (34), o equivalente a apenas alguns biscoitos e sardinhas. A primeira coisa que Jesus fez foi mandar que a multidão se assentasse no chão
(35). Esse verbo é diferente daquele usado em relação à alimentação das cinco mil pessoas (14.19). No primeiro caso, a palavra significa literalmente “deitar”, e aqui “cair de costas”. A diferença essencial é pequena. Na verdade, as duas palavras querem dizer “reclinar”. O Senhor “abençoou” o pão na ocasião em que alimentou mais de cinco mil pessoas, e aqui Ele deu graças (36). O verbo é eucharisteo, e equivale à nossa moderna expressão “dar graças” quando
estamos à mesa, prestes a fazer as nossas refeições. Depois, Jesus partiu os pães e os discípulos novamente serviram a multidão. Dessa vez, eles juntaram sete cestos cheios de pedaços que sobraram (37). A
palavra usada para cestos é diferente daquela que é usada em relação à alimentação das cinco mil pessoas (14.20). Naquele caso, entendemos que se tratava das cestas de lanche dos doze discípulos, enquanto aqui o significado é um cesto maior. Isso é sugerido pelo fato da mesma palavra ter sido usada para o cesto no qual os discípulos desceram Paulo pelo muro de Damasco (At 9.25). Provavelmente se tratasse de um cesto de pescador, feito com cordas trançadas, e que podia carregar pelo menos um alqueire de cereais. Dessa forma, os sete cestos mencionados aqui podem ter acondicionado uma quantidade muito maior de alimentos do que os “doze cestos” da ocasião anterior. Dessa vez havia quatro mil homens (38), novamente Mateus (e não Marcos) acrescenta: além de mulheres e crianças. Tendo despedido a multidão, Jesus entrou no barco literalmente “subiu no barco” - e foi para as “fronteiras” de Magdala (39). Essa era a cidade de onde veio Maria Madalena. Estava localizada na fértil planície de Genesaré (cf. 14.34). Os manuscritos gregos mais antigos trazem o termo “Magadã”. Como a localização dessa última é desconhecida, fica fácil entender porque algum escriba a mencionou como a cidade de Madalena.
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