Seção XII
A RESSURREIÇÃO Mateus 28.1-20
Mateus menciona duas aparições pós-ressurreição de Jesus. A primeira foi para as
mulheres no dia em que Ele ressuscitou. A segunda foi para os onze apóstolos, em um monte da Galiléia. Marcos não fala de nenhuma aparição nos oito primeiros versículos do capítulo 16, mas nos últimos doze versículos menciona várias.1 Lucas fala de três, além de fazer uma referência a uma quarta (a Simão Pedro). Ele descreve as aparições para os dois discípulos na estrada para Emaús, o encontro no cenáculo em Jerusalém no primeiro domingo à noite, e a aparição final, na Ascensão. João menciona a primeira aparição - para Maria Madalena as visitas aos discípulos nos dois primeiros domingos após a ressurreição, em Jerusalém, e a aparição no lago da Galiléia (um total de quatro).
A. O Dia da Ressurreição, 28.1-15
1. As Mulheres no Sepulcro (28.1-10) No fim do sábado (1) significa “depois do sábado”.2 Quando já despontava o
primeiro dia da semana demonstra que já era a manhã de domingo. Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E provável que esta seja a mesma visita descrita em João 20.1, onde somente Maria Madalena é mencionada. As duas mulheres foram contar a novidade para os discípulos (Pedro e João, no quarto Evangelho) e talvez a outra Maria não tenha voltado para o sepulcro até mais tarde, depois que Maria Madalena já tinha visto o Senhor ressuscitado.
Somente Mateus fala do terremoto, quando um anjo veio e removeu a pedra
(2), e somente ele descreve a aparência do anjo (3) e o medo dos guardas, ou “guardiões” (4).
As palavras do anjo (5-7) são bastante semelhantes nos textos de Mateus e de Marcos (16.6-7). Em ambos, as mulheres recebem a ordem de ir dizer aos discípulos que Jesus se encontrará com eles na Galiléia (7). Ambos mencionam a mescla de sentimentos das mulheres, quando saíram do sepulcro vazio (8). Somente Mateus relata a aparição de Jesus a essas mulheres, quando elas estavam
indo contar a novidade aos discípulos (9). Ele as saudou com as palavras: Eu vos saúdo. Em grego, esta é uma única palavra, chairete, que literalmente significa “alegrem-se, fiquem contentes”. Lenski diz: “O verbo chairein é usado para expressar todas as formas de saudação, e normalmente transmite um desejo de felicidade e de bem-estar”.3 Para esta passagem, Arndt e Gingrich sugerem “bom dia”.4 As duas mulheres caíram aos seus pés e o adoraram como o seu Senhor ressuscitado e vivo. Como o anjo tinha dito às mulheres que não tivessem medo (5), assim também
Jesus lhes disse: Não temais (10). Isto significa literalmente: “Parem de ter medo!” Então Ele repetiu as instruções do anjo, de que elas deveriam dizer aos discípulos que fossem para o norte, para a Galiléia, onde os encontraria. Mas tudo indica que permaneceram em Jerusalém durante uma semana, antes de partirem para a Galiléia (cf. Jo 20.28). Sob o título “A mensagem do Sepulcro Vazio”, podemos considerar: 1) o mistério do
sepulcro vazio - Ele não está aqui; 2) o milagre do sepulcro vazio - Ele ressuscitou; 3) o significado do sepulcro vazio - a) um sacrifício aceito, Rm 4.25; b) uma presença permanente, Jo 20.16; c) um julgamento marcado, At 17.31.
2. O Suborno dos Guardas (28.11-15) Como Mateus é o único que fala da colocação da guarda (27.62-66), é natural que ele
seja o único a mencionar os guardas no versículo 4, e a relatar este incidente. Depois que as duas mulheres deixaram o sepulcro, alguns da guarda (“os que
vigiavam”) foram à cidade para contar aos príncipes dos sacerdotes sobre o anjo, o terremoto e o fato de que o corpo de Jesus tinha desaparecido (11). Os príncipes dos sacerdotes convocaram os anciãos (12) para uma rápida reunião no Sinédrio, a fim de deliberar o que iriam fazer. A decisão foi a de dar muito dinheiro (“muitas moedas de prata”) aos soldados, instruindo-os a dizer que os discípulos de Cristo haviam roubado o seu corpo durante a noite, enquanto os soldados estavam dormindo (13). Já que se uma sentinela dormisse no seu posto estaria cometendo um crime e seria punida com a morte, os príncipes dos sacerdotes prometeram que, se o governador descobrisse, nós o persuadiremos e vos poremos em segurança (14). Carr cita exemplos para mostrar que ambos os verbos tinham um uso técnico naquela época, significando “persuadir (por meio de suborno)”, e a expressão vos poremos em segurança está relacionada ao “suborno judicial”. Este é um triste comentário sobre a moral daqueles dias. O objetivo de Mateus ao inserir este parágrafo foi obviamente neutralizar a falsa
história sobre o roubo do corpo de Jesus. A história foi divulgada entre os judeus, até ao dia de hoje (15) - isto é, a época em que este Evangelho foi escrito.
B . A G ran d e C om issão , 28.16-20 Obedecendo à ordem de Cristo, os onze discípulos seguiram para o norte, para a
Galiléia, até o monte onde Jesus iria encontrá-los (16). Em nenhum ponto se menciona qual era esse monte. Quando eles viram Jesus, o adoraram; mas alguns duvidaram (17). Isto parece implicar que havia um grupo maior do que onze pessoas, e essa pode ter sido a mesma reunião em que o Cristo ressuscitado foi visto por “mais de quinhentos irmãos” ao mesmo tempo (1 Co 15.6). A Grande Comissão é dada nos versículos 18-20. Blair a chama de “a passagemchave deste Evangelho”, e acrescenta: “Aqui se compreendem muitas das ênfases do livro”.5 Ele menciona a totalidade do poder de Jesus, “o seu caráter derivativo”, a ordem de evangelizar o mundo todo, a natureza do discipulado, e a certeza da presença de Jesus”.6 Poder (18) é exousia, ou seja, “autoridade”. Ensinai no versículo 19 significa “fazer
discípulos” - uma palavra que tem o sentido completamente diferente de ensinar no versículo 20. Todos os dias (20) significa literalmente que não importa quais sejam os dias que possamos ter - bons ou maus, alegres ou tristes - Jesus prometeu que Ele estaria conosco “todos os dias” - até à consumação da “era” (aion). Blair acertadamente observa: “A afirmação nos lábios de Jesus no final do Evangelho - ‘E-me dado todo o poder no céu e na terra’ - simplesmente abarca o impulso da história toda”.
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